sábado, 7 de janeiro de 2012

E assim nasceu a Espanha...

Queda do reino de Granada: islâmicos se rendem aos "reis católicos" Fernando e Isabel.
Nascia a Espanha Moderna e reunificada.
Por Felipe Nogueira Monteiro
                A Espanha, país de origem latina, localizado na península Ibérica, poderia ser muçulmana. Sim, poderia ser muçulmana. O país, que na idade moderna, foi marcado por ser um baluarte cristão ante a onde protestante que crescia na Europa, um dia foi ocupada por povos de origem árabe muçulmana, que implementaram seu modo de vida até na arquitetura. Mas, a ação de um casal, principalmente de uma mulher, mudou tudo isso. Ali, nasceu a Espanha moderna.
                O território ibérico já esteve na mão dos romanos (séc III a.C – V d.C), dos visigóticos (até o séc. VIII) e principalmente nas mãos do império islâmico (até o séc. XV). O império islâmico vêm em franco crescimento, sob o principio da jihad (guerra santa), fortalecendo uma monarquia teocrática, baseada mos princípios de Maomé e do islamismo. Com isso, conquistaram o Oriente Médio, norte da África e finalmente na península Ibérica, entre 712 a 721, e seu avanço é detido pelo reino franco, na lendária batalha de Poitiers, em 732. Nesses territórios, os muçulmanos deixaram uma rica identidade e herança cultural, na principalmente na arquitetura. Especificamente no caso da Espanha muçulmana (ou Al-Andaluz, como era chamada), havia se tornado um emirado independente e prospero economicamente e culturalmente. Obras clássicas gregas eram discutidas na capital e artesanato e a agricultura tornavam a economia pujante.
Extensão maxima do Império Islâmico. Observe que boa parte da Peninsula Ibérica
está em mão islâmica.

Exemplo de arquitetura arabe, na cidade de Cordoba, na Espanha.
                Mas nessa península Ibérica também possuía 4 importantes reinos cristãos: Navarra, Leão, Castela e Aragão. Portugal se separou e formou como Estado independente e centralizado em 1139, cabendo a esses quatro reinos a luta contra os muçulmanos. Começava ali, a luta pela Reconquista.
                Aproveitando as lutas internas e a fragmentação do emirado de Al-Andaluz e animados por uma unidade religiosa, esses quatro reinos unificaram suas forças na luta pela expulsão dos muçulmanos. A partir de 1212, a situação virou em favor dos cristãos: o reino de Castela e Portugal buscavam se expandir para o Atlântico, enquanto o reino de Aragão avançava pelo Mediterrâneo. Assim, em 1492, só restou um ultimo bastião muçulmano na península, com fama de inespugnável: o reino de Granada.
                Nascida em 1451 e feita princesa em 1468, Isabel de Castela possuía uma habilidade política impressionante. Como era a terceira na linha sucessória no trono de Castela, conseguiu apoio da nobreza para chegar ao poder. Casou-se com Fernando de Aragão em 1469, não por amor, mas com a finalidade de garantir a união dos quatro reinos, decisão que passava por Aragão. Ambos assumiram o trono dos respectivos reinos e estabelecida a união pessoal das coroas, era necessário dar a investida final cristã sob o reino de Granada, que se daria em 1492. A partir dai, o multiculturalismo dá lugar a uniformidade cristã, sendo judeus expulsos do território e perseguindo os próprios cristãos que discordavam da Igreja, por meio da Inquisição. Entre 50 mil a 100 mil pessoas deixam o país. 
Os reinos de Leão (L), Castela (C), Navarra (N), e Aragão (A) durante a Reconquista.
Dado esse esforço em garantir a supremacia da fé cristã, o papa nomeou-os como “Reis Católicos”, o que novamente se revelava parte da habilidade política de Isabel: estava selada ali a aliança entre o Estado e a Igreja.
Garantido o território unificado, politicamente e religiosamente, a Coroa aliada a burguesia mercantil dá ouvidos a um homem de conhecimento e bem ousado para a época. Ele acreditava, com certeza matemática, de que havia terras do outro lado do oceano, diferente do que se acreditava. Sabia também das iniciativas portuguesas para o mesmo intento, mas precisava de investimento para sua expedição. Era o genovês Cristóvão Colombo. Em busca de riquezas sob o prisma do mercantilismo (acumulação de metais preciosos como forma de poder) a Coroa é convencida a financiar o empreendimento. Resultado: em 1492, Colombo descobre a América, iniciando o caminho para a formação de um Império Colonial Espanhol de dimensão planetária. A partir dali, a Espanha seria o país mais poderoso do mundo, sendo afrontada pela Inglaterra só no século XVII. 
Colombo apresenta seu projeto para "descobrir" a América aos "reis católicos". Observe como Isabel de Castela (de branco) está
interessada nessa descoberta.
Mas a Espanha contemporânea não lembra em nada o que já foi no passado. Do século XIX para cá, a Espanha passou por duas republicas e uma ditadura, do general Francisco Franco, da qual o povo espanhol opta por esquecer. A democracia, assim como a família real espanhola, voltam a tona em 1975, no modelo de monarquia parlamentarista, semelhante ao da Inglaterra. O rei Juan Carlos governa por direito desde então, mas o poder de fato é do primeiro ministro.
Rei Juan Carlos I
Principe herdeiro Felipe e sua esposa, Letizia.

Os tempos de crise e escândalos também afetam as monarquias. O país é um dos mais profundamente afetados pela crise, assim como Grécia, Itália, Portugal e Irlanda. O desemprego chega a 22%. Um plano de austeridade foi adotado e até a familia real espanhola adota algo inédito: transparência publica. O rei recebe dos cofres públicos algo em torno de 400 mil dólares (292 mil euros) e o príncipe herdeiro Felipe, só metade disso. Soma-se a isso, os escândalos do genro do rei, envolvido em desvio de recursos públicos para uma espécie de ONG (já ouvi falar disso em algum lugar...). No pronunciamento de Natal, o rei expressou preocupação pelo que descreveu como um declínio da confiança entre os espanhóis nas instituições públicas, observação vista como uma referência ao escândalo envolvendo seu genro.
Em resumo, o processo histórico espanhol mostra que a determinação e aquilo que se acredita, os valores que se carrega, associado com habilidade, é capaz de construir um caminho de prosperidade. De alguns reinos cristãos, a união pessoal de Fernando e Isabel fez surgir a Espanha moderna e ainda desbravadora, ao conquistar a América em 1492. Isso não durou muito tempo, pois logo foi eclipsada por outra potência, a Inglaterra. Em tempos de crise, em que se vê uma Espanha mergulhada em problemas econômicos, talvez seja o caso de olhar para própria História e aprender valores que andam esquecidos, afinal como diz o ditado: “Um povo que não conhece sua História, está fadado a repeti-la”.
Imperio Colonial Espanhol (verde) e Português (roxo).


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