sábado, 3 de dezembro de 2011

Segunda Guerra Mundial: A batalha de Berlim

Por Felipe Nogueira Monteiro
A bandeira soviética tremula sobre o Reichstag. Termina a Guerra na Europa.
            A Alemanha sempre foi um país de muita história. Foi berço de muitos cientistas e artistas, foi o foco da Reforma Protestante, mas a partir do século XIX, a coisa mudou. Com um projeto de domínio mundial e imperialista, idealizado por Otto Von Bismarck e levado a cabo na Primeira Guerra Mundial, em 1914, a ditadura de Adolf Hitler traz a tona a partir de 1934, quando como Fuhrer, inicia o III Reich de “mil anos”. A Alemanha parte para conquistar seu “espaço vital” durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Mas o preço de tudo isso foi alto demais.
            Após a derrota do Grupamento alemão Sul em Stalingrado (URSS) e os revezes constantes do Afrika Korps no norte da Africa, além dos EUA e aliados desembarcarem na França, Adolf Hitler encontra-se acuado no seu pior pesadelo: uma batalha de duas frentes de combate: de um lado, as forças norte-americanas; e de outro, o Exército Vermelho. Eram os preparativos da Batalha de Berlim.
            Nos últimos dias do Reich, Berlim era totalmente diferente da efervecente cidade dos desfiles nazistas, da tumultuada vida urbana. Era só mais um monte de ruínas, com refugiados tentando fugir das áreas de combate e tentando sobreviver. O império de Hitler estava com parques industriais destruídos pelos bombardeios aliados e transportes desorganizados, tudo parou de funcionar: emissoras de rádio, redes de abastecimento, enfim, a Iluminada Berlim havia se tornado pó. O regime nazista se desintegrava enquanto tentava resistir aos seus inimigos, mas a Wehrmacht (Exército regular alemão) não tinha muitas condições de resistir, devido a precariedade de materiais e recursos humanos de toda ordem (várias tropas alemãs estavam cercadas em verdadeiros bolsões na Noruega, na Dinamarca, entre outros, não permitindo a mobilidade). Os EUA e seus aliados estacionam próximo ao rio Elba, deixando a tarefa de tomar Berlim aos soviéticos.
Hitler saúda membros da Juventude Hitlerista, um dos grupos responsáveis pela defesa da capital. É a ultima vez que o Fuhrer vê a luz do dia, antes de permanecer no bunker. É a ultima foto clara de Hitler.
A partir de 1º de abril de 1945, Stalin e seus comandantes estabelecem os preparativos para tomar a capital alemã. Os soviéticos viriam com toda a força, estimulados pelo pesadelo de Stalingrado. No dia 20 de abril, era aniversário de Hitler, e logo a cidade era duramente bombardeada por fogo aliado. Escondido em seu bunker, Hitler estava fisicamente debilitado, mas continuava aplicado quando o assunto era estratégia militar. Ele acreditava na força e no fanatismo do povo alemão para derrotar os soviéticos nas portas da cidade. Veja como o general Dethleffen, ao encontrar Hitler, o descreve:
[...] Agora era um velho cansado. [...] O Hitler daquela época [1939] nada tinha a ver com a ruína humana a quem me apresentei em 25 de março de 1945 e que me estendeu , cansadamente, a mão mole e trêmula. [...] Ele estava com um aspecto terrível. Arrastou-se lenta e laboriosamente de seus alojamentos para a sala de conferencias, puxando as pernas. Perdera o senso de equilíbrio, se fosse detido nesse curto trajeto, sentava-se num dos bancos ou apoiava-se no interlocutor. Perdera o controle do braço direito, a mão direita não parava de tremer. [...] Os olhos estavam injetados de sangue; apesar de datilografarem todo o material que lhe era submetido em “máquinas [especiais] do Fuhrer”, com letras três vezes maiores que o normal, ele só conseguia ler de óculos. Com freqüência saliva escorria pelo canto dos lábios – um retrato de miséria e horror. (BESSEL, p.107)
            As comunicações militares alemãs eram cada vez mais difíceis e um ataque coordenado era quase impossível. A Wehrmacht estava quebrada, sem recursos, desde sua ultima vitoria, nas colinas Seelow, nas proximidades de Berlim, onde enfrentaram uma força incrível de 2,5 milhões de soldados soviéticos! As tropas alemãs estavam impossibilitadas de lutar e se movimentar. Hitler sabia disso e pela primeira vez, assume que a guerra esta perdida. Mesmo sob recomendações de seus generais (que desejavam que saísse da cidade),resolve ficar em Berlim, para manter os soldados inspirados a lutar (lembrando que a Wehrmacht fez um juramento de lealdade ao Fuhrer). A 23 de abril, Hitler transfere poderes ao segundo Fuhrer, o almirante Karl Donitz.
Tropas americanas e soviéticas se encontram em Torgau, sobre o rio Elba. O Reich está dividido em dois.
As forças alemãs abandonam o front oeste para combater o inimigo vermelho do leste. A 25 de abril, Berlim é cercada e a Chancelaria é bombardeada. Nesse mesmo dia, a residência de Hitler nos Alpes é bombardeada e as tropas soviéticas e americanas encontram-se sob as ruínas de uma ponte, sob o rio Elba.
            Na esperança de que tropas alemãs remanecentes, que vinham do oeste, resgatassem a capital, começa a haver deserções importantes na cúpula do Reich, e muitos se entregam aos norte-americanos. A batalha de Berlim esta a metros do bunker da Chancelaria, onde está Hitler. Nesse momento, mal a guerra tinha acabado, a URSS já dividia a cidade de Berlim em áreas administrativas e a pilhagem e violência já ocorria aos montes. A situação era tão grave, que os comandantes alemães que desejassem fugir, deveriam usar um aeródromo improvisado, uma larga avenida próximo a portão de Brandemburgo e do Reichstag (o Parlamento alemão). Hitler, por sua vez, não se importava com a população civil, alegando que o povo alemão demonstrou-se fraco ante ao inimigo, e que seria a ordem natural das coisas: o mais forte venceria o mais fraco. A 30 de abril, Hitler toma as ultimas decisões: manda matar sua cadela, Blondie, casa-se com Eva Braun, dita seu testamento pessoal e se retira ao seu bunker pessoal. Hitler tem receio que aconteça com ele destino semelhante ao de seu parceiro Mussolini, que teve o corpo exposto em praça pública, então ordena que seu corpo e de sua esposa,sejam carbonizados. Lá no bunker, Hitler e Eva se suicidam.
Na mesma hora em que Hitler se suicida, a bandeira soviética tremula no topo do Reichstag, a 200m da Chancelaria e do bunker do Fuhrer.
            A notícia da morte de Hitler foi um misto de surpresa e apreensão entre os membros do arruinado Estado nazista. Outros seguiram o destino junto ao Fuhrer, se suicidando, no caso de seu ministro da Propaganda, Joseph Goebbels. A luta em Berlim continuou até 2 de maio, quando o comandante Helmut Weidling ordena que as tropas parem de lutar, pois a morte de Hitler libera os soldados do juramento de lealdade ao Fuhrer, mas muitos continuaram por mais alguns dias. Em comunicado as tropas, Weidling diz:
A 30 de abril de 1945, o Fuhrer tirou a própria vida, abandonando, portanto, aqueles que tinham jurado lealdade. Só sob comando do Fuhrer, ainda haveria sentido para lutar por Berlim, apesar da falta de armas pesadas e de munição e da situação em geral demonstrarem que a guerra é inútil [...] De acordo com o alto-comando das tropas soviéticas, ordeno, portanto, que parem de lutar imediatamente. (BESSEL, p. 128)
Era momento agora das rendições mais importantes e na formação de um governo nazista, na liderança de Karl Donitz, que transferiu a sede do governo de Berlim para a cidade de Flensburg. A meia-noite de 8 para 9 de maio de 1945, sem acordos em separado, os altos dirigentes nazistas assinam a rendição diante das forças aliadas, na cidade de Reims.
As forças alemãs se rendem aos aliados. Era o fim da guerra na Europa.
A Folha de São Paulo, de 8 de maio de 1945 dá destaque ao evento histórico:
RENDERAM-SE INCONDICIONALMENTE AOS EXÉRCITOS ALIADOS AS FÔRÇAS GERMÂNICAS DE TERRA, MAR E AR
Assinada no Q.G. do general Eisenhower a capitulação
Publicado na Folha da Manhã, terça-feira, 8 de maio de 1945
Ordem de cessar fogo
LONDRES, 7 - A rádio de Flensburg, controlada pelos alemães confirmou esta manhã a notícia de que o novo "fuehrer" alemão Doenitz tinha ordenado a todos os nazistas que cessem tôda e quaisquer atividades. A ordem de cessação do fogo foi dada também a todos os comandantes de submarinos.

Foi assinada em Rheins a rendição
NOVA YORK, 7 - A emissora de Nova York anuncia que a rendição incondicional da Alemanha, assinada em Rheins foi subscrita pelo general Smith, chefe do Estado Maior do general Eisenhower, pelo general Ivan Susloparoff, em nome da União Soviética, e pelo general Francis Savez, em nome da França.

Proclamação do conde Von Krosigk ao povo germanico
LONDRES, 7 - Foi a seguinte, na íntegra, a proclamação em que o ministro do Exterior do Reich, conde Schwerin von Krosigh, anunciou a capitulação total das fôrças alemãs, dirigida ao novo germânico, através da emissora de Flensbourg:
"Homens e mulheres da Alemanha! O Alto Comando das fôrças armadas, por ordem do grande almirante Doenitz, determinou a rendição incondicional de tôdas as fôrças combatentes alemãs.
[...] Após uma luta heróica de quase seis anos de incomparável dureza, a Alemanha sucumbiu ao poder esmagador de seus inimigos. Continuar a guerra seria derramamento inútil de sangue e uma desintegração inútil. O govêrno, que tem o sentido da responsabilidade pelo futuro da sua nação, viu-se obrigado a agir, por motivo do colapso de tôdas as fôrças físicas e materiais, e a exigir ao inimigo e cessação dos hostilidades. (FOLHA, 08 de maio de 1945)
Embora o fim da Segunda Guerra na Europa tenha sido comemorado em todo o continente, o fim do III Reich foi recebido das mais diferentes maneiras na Alemanha: em muitos a guerra acabou em 1944, para outros acabou em maio de 1945. As bandeiras brancas passaram a fazer parte do cotidiano das cidades alemãs, saques e a falta de autoridades se tornaram evidentes.

O globo terrestre e uma estátua de Hitler em meio a destroços da Chancelaria do Reich, em Berlim.
A ocupação aliada no país não foi do dia para noite, muitas vezes nem foi percebida em muitas localidades, pois quando os aliados chegaram (principalmente os americanos) a sensação de libertação ficava estampada no modo de vida e de agir dos próprios alemães.Veja o relato de uma moradora, Annemarie Meckel:
De manhã, os primeiros americanos [chegaram]. Chegam devagar, com metralhadoras, de todos os lados, dirigindo pelas ruas. Mas logo estão jogando futebol americano num canto. Acima de tudo, a libertação de um medo bem primitivo. As crianças são libertadas  e se enchem de um agudo interesse por tudo que acontece. “Agora é paz”, dizem, atordoadas. (BESSEL, p.145)
            Mas libertação não significou boas atitudes por parte dos americanos e muito menos, soviéticos. Veja o que uma estudante alemã, ao voltar para casa, relata sobre a passagem dos americanos:
Em nosso quintal [...] utensílios de cozinha com restos de comida, talheres [...] espalhados por todo lado. Dentro de casa, não era diferente. [...] No quarto de dormir, as camas estavam sujas. Os soldados tinham deitado de sapatos. Tudo em toda a parte estava sujo e manchado. Os amis [americanos] tinham também nos roubado. Perdemos uma câmera, três colares de prata e uma bonita pulseira. Na agitação do momento, tínhamos esquecido de esconder essas coisas. (BESSEL, p.146)
Nesse sentido, nos aponta Charles de Gaulle, estadista francês:
“Os cortejos organizados, os sons dos sinos, as salvas de artilharia, os discursos oficiais não impedem que a alegria do povo, assim como a minha, permaneça grave e contida [...], porque a luta foi manchada por crimes que envergonham o gênero humano” (VAISSE, p.19)

Reichstag após o fim da guerra. A nova Alemanha ergue-se das cinzas da ditadura nazista alemã.
Em síntese, a Batalha de Berlim foi a ultima batalha da Segunda Guerra Mundial em teatro europeu, pois ela seguiria até agosto no Japão. Foi o desfecho derradeiro do III Reich e o fim de uma ditadura que representa a maldade e a repugnância humana. Mas, o mais incrível disso tudo, é que ela significou recomeços. A Alemanha teve que se reinventar, se reconstruir, mesmo que o mundo se mergulhasse nos anos da Guerra Fria, onde o país se tornaria símbolo novamente. Como afirmei no começo deste texto, a Alemanha é um país cheio de História.






















 

Documentos da rendição alemã: Simples, sem grandes adereços, mas de grande importancia histórica.

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