sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Notas sobre o panorama da Comunidade Andina de Nações.

 Por Leandro Pereira dos Santos * 

Mergulhada em desavenças internas, a comunidade andina se divide entre os que unilateralmente procuram acordos comerciais com os EUA, a UE e a Ásia, como no caso de Peru e Colômbia, e os que se aproximam da ALBA, como nos casos de Equador e Bolívia.”(COUTINHO, 2009, p.4, Grifo nosso)

Atualmente os países andinos estão divididos em dois blocos distintos: o bloco daqueles que são favoráveis a uma abertura maior para com o capital estrangeiro globalizado e também a uma relação diplomática maior com os EUA. Esse bloco é composto por Colômbia, Peru e Chile, sendo que o primeiro é um dos aliados mais fiéis dos EUA na América do Sul pois o governo de Álvaro Uribe depende do apoio dos EUA, que se manifesta através do plano Colômbia, para combater a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que empreende uma guerrilha que já dura 46 anos. E o outro bloco distinto é daquelas nações que são contrárias ao capital estrangeiro globalizado e também contrárias as relações exteriores maiores com os EUA por temerem que esse possa intervir em assuntos internos, andando em direções opostas a do primeiro bloco, como por exemplo: enquanto o primeiro bloco abre sua economia para o capital estrangeiro globalizado o segundo busca reconquistar as bases econômicas do Estado através de ondas de estatizações, promovendo assim uma retórica nacionalista. Esse bloco é composto por Venezuela, Bolívia e Equador.
De acordo com Kfuri (2009) esses paradoxos entre os países do CAN (comunidade Andina das Nações) levam por deixar esse bloco sem significação, deixando-o assim, como diz Kfuri (2009) como mais uma sigla do que um mecanismo efetivo, como se pode ver na, por exemplo, nas negociações entre a CAN e a União Européia. Nessas negociações, os países membros da CAN não conseguem traçar um paralelo comum para assinar um tratado-conjunto com a UE, o que é reflexo desses paradoxos que marca o bloco. Se não chegarem a nenhum paralelo comum, cada país poderá negociar com a UE separadamente. Os paradoxos atingiram o ponto alto no episódio da saída da Venezuela do CAN e seu pedido de ingresso formal no MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), composto de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
A retirada da Venezuela da CAN marca o início das desfragmentarão do bloco andino, mostrando assim seus paradoxos políticos e econômicos. A Venezuela apresentou sua proposta de adesão em 2006,que de acordo com Coutinho (2006) no principio pode promover o fortalecimento do grupo do MERCOSUL, pois a Venezuela é a terceira economia do continente e também uma potência energética, além de ser um dos estados abrangidos pela floresta amazônica e de estar próxima dos países caribenhos, mas ainda de acordo com Coutinho (2006) a Venezuela ainda tem alguns pontos em desacordo com o grupo do Mercosul, entre eles o centralismo administrativo, que de acordo com Maciel (2006) está retirando a autonomia das cidades e estados, tornando o poder central forte.Em suma: enquanto o MERCOSUL promove a integração Chaves valoriza o nacionalismo estatal, enquanto o MERCOSUL promove a democracia Chaves defende eleições infinitas para presidente da República, gerando assim contradições entre a maneira que o bloco está seguindo deste 1991 e a situação atual da Venezuela, como nos confirma Coutinho (2006).
A adesão da Venezuela no Mercosul marca a construção da unidade que o continente tentou construir, pois essa observou que muitas vezes o discurso nacionalista e a proteção da economia interna pode levar o país ao isolamento, prejudicando e muito suas aspirações, pois o contexto em que o país está inserido é o contexto globalizado, onde essas barreiras tendem a cair e o diálogo, a cooperação e a unidade começam a serem valorizados. E observando o contexto do continente e o pragmatismo do Brasil, que é um dos lideres do bloco, a Venezuela vai ter que por fim fazer algumas reformas para poder entrar de fato no bloco, pois alguns dos fatores que se pode presenciar no cotidiano desse país vão de encontra aos valores do MERCOSUL, e como o Brasil assumiu uma posição de pragmatismo em suas Relações Exteriores (MACIEL, 2006) o diálogo acabará vencendo, pois esse é um dos valores do Mercado Comum do Sul.
E ressaltando mais um passo na união das nações da países da América do Sul entra em vigor em 2006 a UNASUL (União de nações Sul-americanas). De acordo com Kfuri (2008,p.15) é uma iniciativa que deve ser saudada como uma boa notícia, pois a UNASUL representa um passo muito importante para o relacionamentos entre vizinhos que historicamente tiveram suas relações exteriores principais com países europeus e antigas metrópoles, que de acordo com Kfuri (2008) é herança do passado colonial. Essa relação entre as nações sul-americanas se constituem na vontade própria dessas nações em buscar a unidade sem intervenção de um ator externo ou sem a eclosão de um conflito armado, como pode-se citar o caso da União Européia por exemplo, partindo assim a iniciativas de nações que colocaram de lado seus paradigmas políticos, econômicos e históricos para tentar a unidade do continente, o que é tão valorizado nesses tempos de globalização.
Referências:

·         Carpes, Mariana Montez; Leite, Iara. O Governo Uribe: Militarização, Política Externa e Processo de Paz. In: Agenda Sul-Americana: Mudanças e Desafios no início do século. Brasília: FAG, 2007.
·         CRUZ Júnior, Ademar Seabra. Novos rumos, velhos problemas - as tortuosas vias da negociação e da conciliação no segundo mandato de Alan García. Análise de Conjuntura. Rio de Janeiro, n.11, nov. 2007.ISSN 1809-8924
·         AYERBE, Luiz Fernando. A Evolução política sul-americana na perspectiva estadunidense: a interlocução entre think tanks e o Departamento de Estado. Análise de Conjuntura. Rio de Janeiro, n.09, set. 2007. ISSN 1809-8924
·         LIMA, Maria Regina Soares. A Política externa brasileira e os interesses nacionais.Rio de Janeiro, Observatório Político sulamericano (OPSA). Disponível no em português no site nueva sociedade. www.nuevasociedade.org. Acessado em 07/02/10.
  • MACIEL, Natália. Reforma Política e Política externa na Venezuela: uma ameaça á segurança continental sob a óptica norte-americana. Revista Intellector. Rio de Janeiro, nº6, ano III, volume 2, Jan-Jun de 2007.
  • COUTINHO, Marcelo. Venezuela no Mercosul – Adaptação. O Globo. Rio de Janeiro, 28/07/2006.
  • KFURI, Regina. Nova Integração sul-americana. In: Boletim OPSA. Rio de Janeiro, nº 3, mai/jun de 2008.
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*Por Leandro Pereira dos Santos é reservista do Exército Brasileiro, Graduado em História pela Universidade Salesiana de São Paulo (1º Colocado da turma com o título “Universitário 5 Estrelas”) e participante do Programa PIBIC/BICSAL. Especialista em Psicopedagogia e Psicomotricidade pelo Centro UNISAL, Mestrando no programa de mestrado em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, Professor OFA cat.O da Secretaria de Educação de São Paulo (E.E. Edgar de Souza/E.E Luiz de Menezes e E.E Padre Leôncio), Professor da Secretaria Municipal de Educação de Guaratinguetá (Escola Municipal Alcina Novaes e Escola Municipal Ana Fausta), membro do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da USP na área de Segurança Energética e pesquisador-Júnior CAT. B do Centro de Estudos da Geopolítica e Relações Internacionais (CENEGRI). 

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