sábado, 10 de dezembro de 2011

Ganhar ou perder, mas sempre com democracia! A Democracia Corinthiana


Por Felipe Nogueira Monteiro
                No ano em que o Corinthians conquista o pentacampeonato brasileiro e em ocasião do falecimento do jogador Socrates, muito se falou da famosa “Democracia Corinthiana”. No inicio do jogo, os jogadores corinthianos e a torcida fizeram o gesto característico do jogador Sócrates: o braço estendido ao alto com um punho fechado. Tudo isso é muito carregado de simbologia e de história. É um misto de estrutura, de sentimento de pertencimento e de mudança numa época em que se falar em democracia era algo perigoso, digno de ser preso, por ser ameaça a nação, afinal era o Brasil do “ame ou deixe-o”. Sinceramente, sempre me fascinou e me intrigou a importância histórica da Democracia Corinthiana. Mas afinal, o que ela foi e qual seu real impacto ou será coisa de time ou paixão?
                Final da década de 70 e inicio dos anos 80. No Brasil, a efervescência política toma conta do país. Após uma década e meia de governo militar, de um regime brutal e repressor de toda liberdade, manifestações populares começam a ganhar força contra a ditadura, que está no poder desde 1964: a Igreja Catolica (por meio do CNBB), A Ordem dos Advogados do Brasil, a imprensa, e os trabalhadores e estudantes se unem contra as arbitrariedades do governo.

                E realmente, as manifestações tem seus resultados. Em 1974, é eleito de maneira indireta Ernesto Geisel, que inicia o processo de abertura política da ditadura e que tem por extensão no governo do general João Figueiredo, em 1979. Em seu governo, anistias foram dadas, mas alas reacionárias e linha-dura dos militares reagem, com o atentado do Riocentro e atentados a instituições publicas e estabelecimentos civis, com o objetivo de acusar a esquerda e combater a abertura política. Em 1984, tinha inicio o movimento das Diretas-Já, que reivindicava a aprovação de uma emenda pelo Congresso Nacional que restabelecia as eleições diretas para presidente. Liderado pelo Partido dos Trabalhadores, o movimento ganhou um amplo apoio por parte de milhares de pessoas, de indivíduos desconhecidos a até grandes cantores, artistas, políticos, entre outros.

Casagrande
Zenon
Wladimir














Socrates

O jogador Socrates é considerado o "pai da Democracia
Corinthiana".
Nesse cenário, remontando desde 1981, o Sport Club Corinthians vinha de uma péssima campanha no campeonato brasileiro e paulista. Em 1982, a presidência de Vicente Matheus acaba e assume Waldemar Pires, que escolhe um sociólogo, Adilson Monteiro Alves, para a direção de futebol do time. Defendia o espírito de grupo e ouvir o que os jogadores tinham a dizer, somando que a equipe dispunha de jogadores politizados, como Sócrates, Wladimir, Casagrande, Zenon, entre outros. Nascia ali, uma revolução no time, nomeado de Democracia Corinthiana, termo criado pelo publicitário Washington Olivetto.
                A partir dai, nascia um sistema de autogestão e gerenciamento, em que jogadores, comissão técnica e diretoria decidiam qualquer assunto por meio do voto, desde uma contratação até recursos financeiros. Todos com mesmo peso na votação, não importando hierarquia. O Corinthians foi o primeiro time a utilizar dizeres publicitários no uniforme, e esses primeiros dizeres estavam relacionados a defesa das Diretas-Já, para ira dos militares, que por sua vez pediram moderação nesse assunto. Assim, a Democracia Corinthiana nasce como um dos principais movimentos ideológicos do futebol brasileiro: muitos jogadores abriram mão de um projeto de vida para se dedicar ao projeto nacional que reivindicava eleições diretas para presidente.
Participação corinthiana nas Diretas Já: Da esq para direita: o jogador Socrates, o ativista politico Fernando Hnrique Cardoso, o jogador Casagrande, o diretor de futebol do Corinthians Adilson Monteiro Alves e em destaque, o radialista Osmar Santos.
Wladimir e Socrates, além de Adilson Monteiro em comicio pelas eleições diretas.
O resultado foi benéfico: o Corinthians foi campeão paulista em 1982 e 1983, quitou suas dividas e deixou uma receita de 3 milhões de dólares, sem contar que muitos jogadores engrossaram as fileiras e foram vozes ativas nos movimentos da Diretas-Já. O fim da Democracia Corinthiana veio com a mudança dos tempos: o time perdeu os campeonatos de 1984 e 1985, a criação do clube dos 13 exigia a figura de um presidente e o sistema corinthiano não era permitido para ingresso, a invasão de capital da iniciativa privada do futebol moderno diante do sucesso da gestão do Flamengo, solapou o modelo corinthiano. A emenda Diretas-Já é vetada num primeiro momento, mas os movimentos continuaram e as eleições de 1985 elegeram, de maneira indireta, o primeiro presidente civil pós-ditadura: Tancredo Neves e, depois José Sarney. Nascia a Nova República.
                Em síntese, a Democracia Corinthiana foi mais que uma idéia de marketing ou simplesmente paixão de time, foi um sistema de autogestão que desafiou uma estrutura de nível nacional. Ela demonstrou que é possível vencer a ditadura, trazer novamente a idéia de liberdade política, tão desejada por todos e naquele momento, era o exemplo vitorioso não na historia do futebol, mas na Historia brasileira. Ser mais que um jogador, ser agente de mudança, de transformação da realidade e dos individuos: fica o exemplo histórico para as gerações atuais do futebol.

Final do Campeonato brasileiro de 2011: Corinthians e Palmeiras - Homenagem a Socrates.
 Veja uma entrevista de Socrates em 1984, dada a Jose Luiz Datena em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Entenda o que é a Democracia Corinthiana na fala de Socrates e compare com as entrevistas que ja deve ter visto dos jogadores atuais. Tire suas conclusões no link: http://www.youtube.com/watch?v=E7s5cbiTxy4&feature=player_detailpage

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