Queda do reino de Granada: islâmicos se rendem aos "reis católicos" Fernando e Isabel. Nascia a Espanha Moderna e reunificada. |
Por Felipe Nogueira Monteiro
A Espanha, país de origem latina, localizado na península Ibérica, poderia ser muçulmana. Sim, poderia ser muçulmana. O país, que na idade moderna, foi marcado por ser um baluarte cristão ante a onde protestante que crescia na Europa, um dia foi ocupada por povos de origem árabe muçulmana, que implementaram seu modo de vida até na arquitetura. Mas, a ação de um casal, principalmente de uma mulher, mudou tudo isso. Ali, nasceu a Espanha moderna.
O território ibérico já esteve na mão dos romanos (séc III a.C – V d.C), dos visigóticos (até o séc. VIII) e principalmente nas mãos do império islâmico (até o séc. XV). O império islâmico vêm em franco crescimento, sob o principio da jihad (guerra santa), fortalecendo uma monarquia teocrática, baseada mos princípios de Maomé e do islamismo. Com isso, conquistaram o Oriente Médio, norte da África e finalmente na península Ibérica, entre 712 a 721, e seu avanço é detido pelo reino franco, na lendária batalha de Poitiers, em 732. Nesses territórios, os muçulmanos deixaram uma rica identidade e herança cultural, na principalmente na arquitetura. Especificamente no caso da Espanha muçulmana (ou Al-Andaluz, como era chamada), havia se tornado um emirado independente e prospero economicamente e culturalmente. Obras clássicas gregas eram discutidas na capital e artesanato e a agricultura tornavam a economia pujante.
Mas nessa península Ibérica também possuía 4 importantes reinos cristãos: Navarra, Leão, Castela e Aragão. Portugal se separou e formou como Estado independente e centralizado em 1139, cabendo a esses quatro reinos a luta contra os muçulmanos. Começava ali, a luta pela Reconquista.
Extensão maxima do Império Islâmico. Observe que boa parte da Peninsula Ibérica está em mão islâmica. |
Exemplo de arquitetura arabe, na cidade de Cordoba, na Espanha. |
Aproveitando as lutas internas e a fragmentação do emirado de Al-Andaluz e animados por uma unidade religiosa, esses quatro reinos unificaram suas forças na luta pela expulsão dos muçulmanos. A partir de 1212, a situação virou em favor dos cristãos: o reino de Castela e Portugal buscavam se expandir para o Atlântico, enquanto o reino de Aragão avançava pelo Mediterrâneo. Assim, em 1492, só restou um ultimo bastião muçulmano na península, com fama de inespugnável: o reino de Granada.
Nascida em 1451 e feita princesa em 1468, Isabel de Castela possuía uma habilidade política impressionante. Como era a terceira na linha sucessória no trono de Castela, conseguiu apoio da nobreza para chegar ao poder. Casou-se com Fernando de Aragão em 1469, não por amor, mas com a finalidade de garantir a união dos quatro reinos, decisão que passava por Aragão. Ambos assumiram o trono dos respectivos reinos e estabelecida a união pessoal das coroas, era necessário dar a investida final cristã sob o reino de Granada, que se daria em 1492. A partir dai, o multiculturalismo dá lugar a uniformidade cristã, sendo judeus expulsos do território e perseguindo os próprios cristãos que discordavam da Igreja, por meio da Inquisição. Entre 50 mil a 100 mil pessoas deixam o país.
Os reinos de Leão (L), Castela (C), Navarra (N), e Aragão (A) durante a Reconquista. |
Dado esse esforço em garantir a supremacia da fé cristã, o papa nomeou-os como “Reis Católicos”, o que novamente se revelava parte da habilidade política de Isabel: estava selada ali a aliança entre o Estado e a Igreja.
Garantido o território unificado, politicamente e religiosamente, a Coroa aliada a burguesia mercantil dá ouvidos a um homem de conhecimento e bem ousado para a época. Ele acreditava, com certeza matemática, de que havia terras do outro lado do oceano, diferente do que se acreditava. Sabia também das iniciativas portuguesas para o mesmo intento, mas precisava de investimento para sua expedição. Era o genovês Cristóvão Colombo. Em busca de riquezas sob o prisma do mercantilismo (acumulação de metais preciosos como forma de poder) a Coroa é convencida a financiar o empreendimento. Resultado: em 1492, Colombo descobre a América, iniciando o caminho para a formação de um Império Colonial Espanhol de dimensão planetária. A partir dali, a Espanha seria o país mais poderoso do mundo, sendo afrontada pela Inglaterra só no século XVII.
Colombo apresenta seu projeto para "descobrir" a América aos "reis católicos". Observe como Isabel de Castela (de branco) está interessada nessa descoberta. |
Mas a Espanha contemporânea não lembra em nada o que já foi no passado. Do século XIX para cá, a Espanha passou por duas republicas e uma ditadura, do general Francisco Franco, da qual o povo espanhol opta por esquecer. A democracia, assim como a família real espanhola, voltam a tona em 1975, no modelo de monarquia parlamentarista, semelhante ao da Inglaterra. O rei Juan Carlos governa por direito desde então, mas o poder de fato é do primeiro ministro.
Rei Juan Carlos I |
Principe herdeiro Felipe e sua esposa, Letizia. |
Os tempos de crise e escândalos também afetam as monarquias. O país é um dos mais profundamente afetados pela crise, assim como Grécia, Itália, Portugal e Irlanda. O desemprego chega a 22%. Um plano de austeridade foi adotado e até a familia real espanhola adota algo inédito: transparência publica. O rei recebe dos cofres públicos algo em torno de 400 mil dólares (292 mil euros) e o príncipe herdeiro Felipe, só metade disso. Soma-se a isso, os escândalos do genro do rei, envolvido em desvio de recursos públicos para uma espécie de ONG (já ouvi falar disso em algum lugar...). No pronunciamento de Natal, o rei expressou preocupação pelo que descreveu como um declínio da confiança entre os espanhóis nas instituições públicas, observação vista como uma referência ao escândalo envolvendo seu genro.
Em resumo, o processo histórico espanhol mostra que a determinação e aquilo que se acredita, os valores que se carrega, associado com habilidade, é capaz de construir um caminho de prosperidade. De alguns reinos cristãos, a união pessoal de Fernando e Isabel fez surgir a Espanha moderna e ainda desbravadora, ao conquistar a América em 1492. Isso não durou muito tempo, pois logo foi eclipsada por outra potência, a Inglaterra. Em tempos de crise, em que se vê uma Espanha mergulhada em problemas econômicos, talvez seja o caso de olhar para própria História e aprender valores que andam esquecidos, afinal como diz o ditado: “Um povo que não conhece sua História, está fadado a repeti-la”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário