sábado, 7 de janeiro de 2012

Uma reflexão sobre o euro


Por Felipe Nogueira Monteiro
                Na semana que o euro, a moeda única européia, completa 10 anos, a União Européia, encontra-se no maior desafio de sua existência: superar os efeitos da crise econômica que afeta o continente e ameaça a existência do bloco e a economia dos países que a constituem. O euro superará e sairá fortalecido desse momento de crise?
Richard Coundenhove-Kalergi
                Ideias visando a construção de uma Europa unificada já vem desde o final do século XIX, com o conde Richard de Coundenhove-Kalergi, que propunha no ensaio Pan-Europe de 1923, a construção de uma federação européia, acima das nacionalidades. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a principal tarefa dos governos europeus, além da reconstrução, está ligado a capacidade de superar os nacionalismos do século XIX e integrar-se em bloco gradativamente, rompendo barreiras econômicas e políticas e que fosse capaz de garantir a paz no continente. Mas nesse contexto, o mundo entrava em Guerra Fria: a Europa passa a ser uma área de disputa por zonas de influência, sendo que países da Europa Ocidental ficam na esfera capitalista e os do Leste europeu adotam o padrão socialista.
As ruinas de Dresden, Alemanha, 1945. A Europa
arrassada na 2º Guerra deveria seguir seu caminho para
reconstrução.
                Em 1947, já surgem as primeiras idéias de unir países europeus em torno de um ideal comum, com a Organização Européia de Cooperação Econômica e depois em 1948, com a União da Europa Ocidental. Eles visavam dividir os investimentos externos entre os países, buscando a reconstrução de seus países. Nesse momento, as prioridades desses investimentos estão na integração econômica (que mantêm o capitalismo girando e enriquecendo) e o aumento da produção agrícola. A partir de 1968, já se falava na união entre as alfândegas e a criação de um sistema monetário único. O próximo passo era fortalecer as instituições políticas do bloco, passo que seria realizado em 1986. O Conselho Europeu, o Parlamento, a Corte de Justiça, o Banco Central Europeu, entre outras ganham mais poder e autoridades supranacionais, com apoio das múltiplas populações européias. Com a crise do petróleo na década de 70 e com a queda do Muro de Berlim, em 1989, a geopolítica do continente se altera drasticamente e facilita ainda mais a entrada dos recém formados países. Fato este, que contribuiu para assinatura do Tratado de Maastrich, em 1992, que previa a cidadania comum aos europeus e adoção de uma moeda única em 2002. Hoje, a União Européia caminha para a ampliação de países que participam do bloco.
                Desde a década de 70, os países da União Européia visam ajustar suas políticas econômicas e cambiais as necessidades e exigências do bloco europeu. E isso é algo totalmente inédito em toda a História: pela primeira vez, os países europeus abrem mão de suas moedas nacionais, para a construção de um mercado unificado. 11 países conseguiram atender o padrão exigido pela futura União Européia, iniciando essa transição desde 1999. Com isso, o euro passa a rivalizar com o dólar, o papel padrão nas trocas internacionais. O modelo foi bem sucedido e se exportou para o mundo: o MERCOSUL (America do Sul), o  NAFTA (América do Norte e México), entre outros.
                Uma das exigências para um país europeu entrar no bloco era o estrito controle do déficit publico e das taxas de inflação. Ou seja, a dividas do Estado deveriam estar sob controle do país. É ai que se encontra o problema da crise européia que ameaça o bloco europeu. A Grécia entrou no bloco com a promessa de que conseguiria controlar seu déficit publico até 2001. Os gregos acreditaram na idéia de que se entrassem no padrão euro, a situação se inverteria e a riqueza seria abundante. O ano de 2008 confirmou o contrario. 
No grafico, demonstra-se a gravidade das dividas europeias (em vermelho).

                Primeiramente, a Grécia nunca conseguiu se adaptar as normas européias, e buscou crédito em bancos espanhóis e franceses para chegar ao patamar exigido. Com a crise de 2008  muitos recursos da Grécia foram solapados, dinheiro público foi jogado no mercado financeiro, visando resgatar a economia (inclusive buscando resgatar esses bancos franceses e espanhóis que ajudaram antes, afinal ficaram vulneráveis e expostos a crise); associando com a baixa produtividade de sua população e o gigantismo do funcionalismo publico. Resultado: déficit publico nas alturas. Lembra da frase: unidos somos fortes? Pois é, unidos podemos cair também: grande questão é salvar a Grécia, evitando o “efeito dominó” (se a crise se alastra, contaminando os vizinhos, como a queda de um dominó, um após o outro). Espanha, Portugal, Itália e Irlanda passaram a adotar pacotes de austeridade (reorganizar a economia, realizar cortes de gastos e acelerar privatizações) para se ajustar e sobreviver a crise. É ai que entram a rejeição dessas populações a esses pacotes: afinal, quem abre mão do salário e da aposentadoria para controlar um desvario econômico?
A chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy são os expontes de esperança da União Europeia.
A França e a Alemanha lideram o resgate a esses países, mas é de vital importância que esses países não se deixem contaminar pela crise, pois isso poderia por fim a unidade européia em definitivo, e pior, voltaria a reforçar espíritos nacionalistas, o mesmo que levou a inúmeras guerras no século XIX e XX. Atualmente, é um cenário descartado, mas é uma hipótese que não foi deixada de lado, uma vez que o presidente francês Nikolas Sarkozy já cogitou a formação de um grupo em separado dentro da União Européia e considerou a entrada da Grécia na zona do Euro “um erro”. Hoje, a grande questão é fortalecer as instituições econômicas européias e adotar normas econômicas mais rígidas aos países participantes da UE.
                Em síntese, o euro surgiu em meio aos anseios de uma Europa unificada economicamente e politicamente, ressurgida em meio das ruínas da Segunda Guerra e longe dos nacionalismos, que se tornam aberrações do mundo globalizado. Hoje, o euro passa por uma das principais crises nesses 10 anos de existência, passando por mais esse desafio: superar a crise e sair fortalecido, mantendo o ideal vivo e ampliando sua participação no continente europeu. 
Em tempos como esse, movimentos sociais de contestação sempre surgem. O cartaz diz: Não é o povo que deve temer o governo, mas o governo que deve temer o povo!
  Leia também sobre a crise economica global de 2011: http://vivenciasdahistoria.blogspot.com/2011/11/por-dentro-das-crises-economicas-de.html

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