No dia 20 de novembro, se comemora o dia da consciência negra, e muitas cerimônias e festejos, e até manifestações contra o preconceito e o racismo são realizadas nesse dia. O negro, com certeza, é uma parte constituinte do povo brasileiro, mas o que leva a ter um dia exclusivamente dele? Vejamos a seguir.
Zumbi dos Palmares |
O quilombo dos Palmares era um refugio de negros fugidos, que até 1660, abrigava 25 mil pessoas. Era um conjunto de aldeias fortificadas que se espalhava por mais de 27 mil km2 (um estado do Alagoas) e se situava entre o estado do Alagoas e Pernambuco. Palmares tinha terras muito férteis, praticando uma agricultura e comercio pujante na região, o que de certa forma, incomodava a elite agrária da região. Quanto a defesa, eram estritamente organizados: tinham um exercito próprio, possuíam armamentos primitivos e de pólvora, alem de fortificações em paliçada. Palmares era constantemente atacada: entre 1596 a 1716, foram 66 ataques! O que demonstra que nem as autoridades coloniais estavam prontas para lidar com o quilombo, nessa realidade. É evidente que muitos dentro do quilombo gostariam de ter relações amistosas com as autoridades coloniais, e é discordando disso que surge a liderança de um jovem general: Zumbi.
Mesmo diante dessa situação, as autoridades coloniais recorreram a um bandeirante a tarefa de destruir Palmares. Era Domingos Jorge Velho, que era especialista em caçar homens e guerra no mato. Levou uma semana para chegar aos arredores de Palmares e estudou o quilombo por um ano e meio. Depois de muito analisar e realizar as devidas precauções, Velho atacou o quilombo três vezes, arrasando o local e fazendo 510 prisioneiros. Zumbi fugiu secretamente, usou táticas de guerrilha para sobreviver, mas foi traído e assassinado a 20 de novembro de 1695.
Palmares tornou-se o símbolo da resistência do negro a opressão e começou a alimentar o ideal abolicionista. Isso levou um tempo: quase 200 anos depois. Nesse trajeto, o negro sofreu com a escravidão, novas correntes abolicionistas ganharam força, “leis parciais” foram adotadas (Ventre livre e do Sexagenários), e nesse momento (em meados do século XIX), somente 5% da população negra ainda era escrava quando a lei Aurea foi assinada. Mas não para por ai. O negro teve de se encaixar nessa nova realidade: libertar não significou socializar. O negro perdeu postos de trabalho para o imigrante europeu, teve suas praticas culturais cerceadas na republica (capoeira era considerado crime, segundo o Código penal art. 391 e 404 de 1890), o que contribuiu para muitos estereótipos que conhecemos hoje. Muitos negros ficaram “desocupados” (desempregados) e ficaram em cortiços de centros urbanos. Nesse novo período de construção da Republica brasileira, construir a identidade miscigenada da população era um impasse.
O lavrador de cafe, de Portinari: Foram poucos os negros que ainda permaneceram em fazendas de cafe no periodo pos-abolição e republicano. |
Em muitos momentos de nossa História, o negro foi o sustentaculo de nossa sociedade, através do trabalho escravo. |
Nessa época, a idéia de “raça superior” e “raça inferior” do discurso do darwinismo social (lei do mais forte) por muito tempo manteve o negro e até mesmo mulato longe da sociedade, o que não permitiu a formação de casais inter-raciais por muito tempo, mas que inevitavelmente foi ocorrendo, pois o numero de mulheres brancas era sempre inferior ao de homens brancos. É com Gilberto Freire, no livro Casa Grande e Senzala, em que esse processo de miscigenação é mais aceito e se torna política de Estado (orgulhar-se do povo miscigenado).
Em resumo, o dia 20 de novembro não é somente o dia da consciência negra, mas também a luta de todos aqueles que clamam contra o preconceito e o racismo, a repressão e uma ação mais democrática e social para todos. Quando observamos Palmares, é notar uma tentativa de sair da condição de oprimido e construir uma nova realidade, que fazemos todos os dias. Realidade essa despida de nossos preconceitos, para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Quilombo Buraco do Tatu, Bahia. O de Palmares seguia o mesmo padrão. |
Olá. Vc pode explicar a relação entre o quilombo e Tróia? Pq Tróia negra? Obrigado
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