Por Felipe Nogueira Monteiro
Desde que surgiu e se implantou no final da Idade Média, com a ascensão da burguesia e a sua aliança com as monarquias nacionais, O capitalismo tem se transformado e se adequado as situações em que lhe é conveniente e ate mesmo de desenvolvimento para algo mais abrangente e globalizado. Economias mais entrelaçadas e dependentes uma das outras fazem parte do cotidiano globalizado. Mas, nesse cenário, o ponto negativo aparece: o capitalismo se movimenta e se corrige através das crises cíclicas. Mas, a partir da década de 70 para cá, essas crises estão adotando um padrão muito mais rápido de aparecimento, e os intervalos tem diminuído. Para citar um exemplo: as crises asiáticas de 1997, a crise russa de 1998, a crise do setor financeiro-informacional de 2000, a falência argentina de 2001, a crise imobiliária de 2008 e a atual crise de 2011. Mas, especificamente, o que a crise de 2011 trás de novo? LEIA MAIS!
É importante resgatar como era a situação mundial até a década de 90. Com o fim da URSS, os EUA elevam-se na condição de superpotência hegemônica do planeta, seja no campo político-econômico, cultural e militar. Mas, os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, as guerras do Afeganistão e do Iraque mudaram essa relação e contribuíram diretamente para a situação atual de crise dos EUA e consequentemente no mundo.
“A falta de parcimônia em tempos de paz impõe a necessidade de contrair débito em tempos de guerra. Quando vem a guerra, não há dinheiro no tesouro senão o que é necessário para as despesas ordinárias dos negócios de paz. [...] Nesta contingência, o governo não tem outro recurso senão emprestar.”(Smith, A Riqueza das Nações, p.396, grifo nosso)
O mercado financeiro mergulhou numa espiral de incertezas e medos, e isso de certa forma, imobilizou o próprio mercado para manter o capitalismo girando. O ápice da crise acontece em 2008, com o estouro da bolha imobiliária. A construção de novas casas, que representa 4% do PIB americano, despencou. Desde 1997 os preços das residências mais que dobraram em termos reais. Em particular, a alta dos preços residenciais fornece aos consumidores a garantia de que precisam para um aumento enorme na tomada de crédito. O mercado imobiliário sempre foi o sintoma de que uma recessão se aproximava, e não a causa. Isso leva ao endividamento pela facilidade de crédito. O dinheiro pára de circular e dificilmente é fornecido a quem realmente necessita. Os bancos centrais mundiais fornecem fundos para o consumo e novas parcerias são estabelecidas.
As nações do mundo todo injetaram dinheiro no mercado para resgatar e evitar que a crise atingisse suas fronteiras. Mas esses gastos, somados a baixa produtividade, gastos públicos e empréstimos, além da limitação desses empréstimos, deixaram as principais nações européias vulneráveis a uma nova crise. É o caso da Grécia, que em efeito dominó, se alastrou a Portugal, Irlanda, Espanha e Itália. Esses países já tiveram que adotar pacotes de austeridade para manter suas economias sadias. Peguemos o exemplo de Karl Marx, em o Capital, para entendermos essa questão.
“O ato de produção, [...], termina, enquanto os meios de produção se transformam em mercadorias, cujo o valor é maior que os elementos que contribuíram para as formar; [...] É então quando as mercadorias devem ser postas em circulação, sendo necessários vendê-las, realizar o seu valor em dinheiro para depois transformar de novo esse dinheiro em capital e assim sucessivamente.” (Marx, O Capital, p. 133, grifo nosso)
Especificamente, no caso grego, seu gigantismo estatal, dado aos altos salários do funcionalismo público e a baixa produtividade, fez com que o país não honrasse suas obrigações com a Zona do Euro. A beira da falência, a Grécia é o principal país que está recebendo ajuda da União Européia, liderada pela Alemanha e França. O plano da UE para salvar a Grécia do colapso prevê privatizações, corte de gastos públicos e redução de salários, o que consequentemente, a população grega não aceitará. O plano prevê também uma ajuda financeira ao pais por parte da UE e o perdão de 50% da dívida do país. A Grécia deseja submeter esse projeto a um referendo popular, atitude contraria ao que deseja a União Européia. Com isso, o bloco comum europeu já vislumbra um futuro sem a Grécia, se o país não fizer as mudanças necessárias.
Divida Publica dos EUA, sendo apresentado a divida acumulada (vermelho), as despesas de governo (azul) e a receita (verde). |
Nos EUA, a crise está ligada aos gastos públicos do governo, que atingiram o seu teto de 14 trilhões de dólares (equivale a uma dívida de aproximadamente US$ 46 mil por habitante!) e era necessário aumentar esse limite em mais 2 trilhões, para afastar o risco de calote, que atingiria o sistema de saúde, a segurança nacional e a previdência, além de atingir países parceiros (Reino Unido, Brasil, China e países exportadores de petróleo), tudo isso já na primeira semana do calote. Em 03 de agosto de 2011, o Congresso dos EUA decidiu o aumento do teto, decidindo pelo corte de gastos, benefícios sociais e aumento de impostos. Esse “teatro do absurdo” (com a economia se arruinando, o alvo se torna as eleições presidenciais de 2012) mexe com o mercado, e as principais agências de risco para investimento rebaixam a nota de confiança dos EUA (que era AAA para AA+). Isso não ocorria desde 1917.
Tudo isso causa uma era de incertezas e uma crise de confiança. Na Europa, discursos xenófobos e racistas, que desejam “governos fortes” ganham força, principalmente os partidos de extrema direita. A Europa, ao se preocupar com a ameaça terrorista do fundamentalismo islâmico, deixou fortalecer o discurso e a ação da extrema-direita. Manifestações e ações radicais se demonstram na ação de Anders Breivik, dos atentados na Noruega. Leva também a uma nova ordem mundial, a multipolaridade global, como menciona o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick:
“Além das consequências financeiras imediatas, estima-se que a situação atual vai provocar mudanças no equilíbrio geopolítico mundial. Toda esta crise está transferindo "muito rapidamente, do ponto de vista histórico", o poder econômico do Ocidente para a China. O maior desafio para a atual crise está no continente europeu, com ameaças à existência do euro. Os investidores começam a se perguntar quanto tempo a Alemanha e a França vão continuar a sustentar os países ameaçados sem correr o risco deles próprios terem suas notas rebaixadas.” (grifo nosso)
Na Califórnia, o movimento Ocuppy Oakland nas portas da prefeitura da cidade. |
Movimentos sociais e organizações civis se mobilizam contra os desvarios financeiros e cobram de seus governos políticas para geração de empregos, haja visto o Ocuppy Wall Street e Ocuppy Oakland. Esse movimento se espalhou por 25 cidades norte-americanas e nas principais cidades européias. A extrema pobreza cresce e já é cresceu um terço em uma década (12,3 milhões de pessoas segundo o centro de estudo Brooking Institute).
O Brasil possui uma economia blindada diante da crise: possui reservas, política do Banco Central restrita e um sistema financeiro sólido. Mas o que pesa contra é a forte intervenção estatal na economia e o constante desvio de recursos (corrupção).
Em síntese, a Doutrina Bush gerou um grande desequilíbrio econômico para os EUA, fator esse que desencadeia na Crise de 2008. Por sua vez, as tentativas de injetar dinheiro na economia com o objetivo de resgatar as economias européias revelam-se em vão, pois em 2011 elas se encontram em uma crise ainda mais profunda. Nos EUA, a crise da dívida pública faz parar a maior economia mundial, gerando uma era de incertezas e crise de confiança, além de surgimento de movimentos sociais e mudança de eixo econômico. Pensar as conseqüências daqui em diante é difícil afirmar e entender esse processo é mais profundo ainda (o que levaria uma reflexão ainda maior), mas uma coisa é certa: o capitalismo continuará se auto corrigindo em forma de crise, cada vez mais constantes e presentes na vida e na organização da humanidade.
Sugestão de Leituras:
₢ A Riqueza das Nações, de Adam Smith;
₢ O Capital, de Karl Marx;
₢ História Viva de edição nº 96 –p.62 a 67.
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