No ano em que a Humanidade atinge a marca histórica de 7 bilhões de pessoas habitando o planeta, já havia a preocupação do que fazer com tanta gente em 1962. Leia a notícia trazida pela Folha de São Paulo.
NO ANO 2000 PODERÁ HAVER NO MUNDO 6 BILHÕES DE PESSOAS
Nova York, dezembro — Já existe gente demais no mundo. A "explosão da população" é real e haverá aumentos ainda mais tremendos no futuro. A população mundial é, hoje, de aproximadamente 3 bilhões de habitantes. E está aumentando na proporção de 51 milhões de pessoas por ano.
Isso é mais do que a produção do mundo permitirá alimentar, abrigar, vestir convenientemente ou mesmo educar convenientemente. Será dificil, senão impossivel, encontrar facilidades escolares para educar a cada ano 51 milhões ou mais de crianças.
Se o atual índice de crescimento mantiver-se —e os especialistas concordam quase unanimemente em que se manterá— a população no ano 2000 será duas vezes maior do que agora, ou seja, de 6 bilhões de pessoas. Para cada 4 pessoas que existiam na Terra em 1950, existem 5 hoje e existirão 6 dentro de 10 anos.
A media de crescimento demografico na Terra é de 1,7% ao ano, mas em algumas regiões a população está crescendo muito mais depressa do que a media mundial. Até mesmo aumento aparentemente pequeno em tal porcentagem pode resultar em aumentos totais muito rapidos da população, pois a população cresce em progressão geometrica: 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128 etc.
Em areas onde o crescimento é na proporção de 2% ao ano, como na India, a população dobrará dentro de 35 anos. Daqui a um seculo, haverá naquela região 7 vezes mais habitantes do que hoje.
Em outras regiões, porem, como na America Latina, a população está crescendo em ritmo ainda mais rapido: 3,5%. Aí, a população atual dobrará até 1982, ou seja, dentro de apenas 20 anos. Dentro de 1 seculo, os paises com aquele indice de crescimento terão 32 vezes mais habitantes do que hoje.
A principal causa desse grande e recente aumento está no declinio mundial da mortalidade. E, diante da população em rapido crescimento, a humanidade terá de escolher —e logo— um de dois metodos para a limitação do indice de aumento.
É preciso que diminua o indice de natalidade ou aumente o indice de mortalidade; caso contrario, os seres humanos reproduzir-se-ão até um ponto em que, no mundo, só haverá espaço para ficar em pé.
Como o aumento do indice de mortalidade não é vantajoso, a unica solução está em um baixo indice de fertilidade, como se encontra na Europa Ocidental.
Até recentemente, a fome, a doença e a guerra limitavam o crescimento da população humana. Agora, porem, o homem aprendeu a controlar, em grande escala, a fome e a doença, embora uma guerra nuclear possa destruir a maior parte da raça humana ou toda ela.
Como a guerra nuclear não é solução desejavel para o problema da população mundial, os especialistas preconizam o controle da natalidade como unica solução humana. Acentuam eles que os resultados da reprodução humana já não interessam apenas a dois individuos ou mesmo ao país onde vivem.
O dr. Harold F. Dorn, dos Institutos Nacionais de Saude dos Estados Unidos, observa que o indice de reprodução humana em qualquer parte do globo pode afetar direta ou indiretamente a saude e o bem-estar do resto da raça humana.
É nesse sentido que existe um problema mundial de população, pois as fronteiras politicas impedem que a Terra seja "um mundo só". E é precisamente naqueles paises onde os padrões de vida são mais baixos que os indices de mortalidade declinaram espetacularmente, sem que houvesse queda correspondente nos indices de natalidade. Daí resulta aumento de população que exige todos os recursos do país apenas para manter os mesmos padrões.
Durante os 10 ultimos anos, de cada 10 pessoas acrescidas à população do mundo, 6 vivem na Asia e outras 2 vivem na America Latina e na Africa. Essas cifras sugerem ser inevitavel a continuação da desintegração do padrão de dominio mundial pelos europeus ocidentais, com transferencia do centro de poder para as regiões densamente povoadas.
Uma solução às vezes sugerida para o excesso de população é mandar alguns dos milhões de habitantes do mundo colonizarem os planetas. Todavia, o custo "per capita" dessa colonização torna o processo muito pouco realistico, mesmo que todos os planetas do sistema solar fossem habitaveis, o que é muito improvavel.
A União Sovietica e os Estados Unidos são a terceira e a quarta maiores nações da Terra, inferiores apenas à China e à India. As caracteristicas demograficas da Russia e dos Estados Unidos são surpreendentemente semelhantes: os indices de natalidade e mortalidade são quase iguais, o analfabetismo virtualmente não existe em ambos os paises e os dois estão agora experimentando movimentos em grande escala das areas rurais para as urbanas, segundo Robert C. Cook, presidente da Repartição de Referencia de População em Washington.
Outro fator no crescimento demografico, devido ao declinio dos indices de mortalidade, particularmente mortalidade infantil, é que tanto homens como mulheres têm agora probabilidade muito maior de sobreviver durante todo o seu periodo reprodutivo. Apesar da subnutrição, de cada 3 crianças que hoje nascem no mundo, 2 viverão até ter filhos.
Os especialistas em população esperam que, se os casais de que nascem esses filhos compreenderem que sua alta fertilidade é um dos maiores obstaculos à elevação dos padrões de vida, limitarão os nascimentos.
Mesmo porque, como acentuou uma alta autoridade indiana, a bomba nuclear só pode destruir o corpo de uma pessoa. A explosão da população pode causar mal muito maior: pode destruir a alma e degradar a dignidade do ser humano.FONTE: Arquivo Folha de São Paulo
Publicado na Folha de S. Paulo, quinta-feira, 6 de dezembro de 1962
Neste texto foi mantida a grafia original
Nova York, dezembro — Já existe gente demais no mundo. A "explosão da população" é real e haverá aumentos ainda mais tremendos no futuro. A população mundial é, hoje, de aproximadamente 3 bilhões de habitantes. E está aumentando na proporção de 51 milhões de pessoas por ano.
Isso é mais do que a produção do mundo permitirá alimentar, abrigar, vestir convenientemente ou mesmo educar convenientemente. Será dificil, senão impossivel, encontrar facilidades escolares para educar a cada ano 51 milhões ou mais de crianças.
Se o atual índice de crescimento mantiver-se —e os especialistas concordam quase unanimemente em que se manterá— a população no ano 2000 será duas vezes maior do que agora, ou seja, de 6 bilhões de pessoas. Para cada 4 pessoas que existiam na Terra em 1950, existem 5 hoje e existirão 6 dentro de 10 anos.
A media de crescimento
A media de crescimento demografico na Terra é de 1,7% ao ano, mas em algumas regiões a população está crescendo muito mais depressa do que a media mundial. Até mesmo aumento aparentemente pequeno em tal porcentagem pode resultar em aumentos totais muito rapidos da população, pois a população cresce em progressão geometrica: 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128 etc.
Em areas onde o crescimento é na proporção de 2% ao ano, como na India, a população dobrará dentro de 35 anos. Daqui a um seculo, haverá naquela região 7 vezes mais habitantes do que hoje.
Em outras regiões, porem, como na America Latina, a população está crescendo em ritmo ainda mais rapido: 3,5%. Aí, a população atual dobrará até 1982, ou seja, dentro de apenas 20 anos. Dentro de 1 seculo, os paises com aquele indice de crescimento terão 32 vezes mais habitantes do que hoje.
As Causas
A principal causa desse grande e recente aumento está no declinio mundial da mortalidade. E, diante da população em rapido crescimento, a humanidade terá de escolher —e logo— um de dois metodos para a limitação do indice de aumento.
É preciso que diminua o indice de natalidade ou aumente o indice de mortalidade; caso contrario, os seres humanos reproduzir-se-ão até um ponto em que, no mundo, só haverá espaço para ficar em pé.
Como o aumento do indice de mortalidade não é vantajoso, a unica solução está em um baixo indice de fertilidade, como se encontra na Europa Ocidental.
Até recentemente, a fome, a doença e a guerra limitavam o crescimento da população humana. Agora, porem, o homem aprendeu a controlar, em grande escala, a fome e a doença, embora uma guerra nuclear possa destruir a maior parte da raça humana ou toda ela.
Controle da natalidade
Como a guerra nuclear não é solução desejavel para o problema da população mundial, os especialistas preconizam o controle da natalidade como unica solução humana. Acentuam eles que os resultados da reprodução humana já não interessam apenas a dois individuos ou mesmo ao país onde vivem.
O dr. Harold F. Dorn, dos Institutos Nacionais de Saude dos Estados Unidos, observa que o indice de reprodução humana em qualquer parte do globo pode afetar direta ou indiretamente a saude e o bem-estar do resto da raça humana.
É nesse sentido que existe um problema mundial de população, pois as fronteiras politicas impedem que a Terra seja "um mundo só". E é precisamente naqueles paises onde os padrões de vida são mais baixos que os indices de mortalidade declinaram espetacularmente, sem que houvesse queda correspondente nos indices de natalidade. Daí resulta aumento de população que exige todos os recursos do país apenas para manter os mesmos padrões.
Durante os 10 ultimos anos, de cada 10 pessoas acrescidas à população do mundo, 6 vivem na Asia e outras 2 vivem na America Latina e na Africa. Essas cifras sugerem ser inevitavel a continuação da desintegração do padrão de dominio mundial pelos europeus ocidentais, com transferencia do centro de poder para as regiões densamente povoadas.
Outra solução
Uma solução às vezes sugerida para o excesso de população é mandar alguns dos milhões de habitantes do mundo colonizarem os planetas. Todavia, o custo "per capita" dessa colonização torna o processo muito pouco realistico, mesmo que todos os planetas do sistema solar fossem habitaveis, o que é muito improvavel.
A União Sovietica e os Estados Unidos são a terceira e a quarta maiores nações da Terra, inferiores apenas à China e à India. As caracteristicas demograficas da Russia e dos Estados Unidos são surpreendentemente semelhantes: os indices de natalidade e mortalidade são quase iguais, o analfabetismo virtualmente não existe em ambos os paises e os dois estão agora experimentando movimentos em grande escala das areas rurais para as urbanas, segundo Robert C. Cook, presidente da Repartição de Referencia de População em Washington.
Outro fator
Outro fator no crescimento demografico, devido ao declinio dos indices de mortalidade, particularmente mortalidade infantil, é que tanto homens como mulheres têm agora probabilidade muito maior de sobreviver durante todo o seu periodo reprodutivo. Apesar da subnutrição, de cada 3 crianças que hoje nascem no mundo, 2 viverão até ter filhos.
Os especialistas em população esperam que, se os casais de que nascem esses filhos compreenderem que sua alta fertilidade é um dos maiores obstaculos à elevação dos padrões de vida, limitarão os nascimentos.
Mesmo porque, como acentuou uma alta autoridade indiana, a bomba nuclear só pode destruir o corpo de uma pessoa. A explosão da população pode causar mal muito maior: pode destruir a alma e degradar a dignidade do ser humano.
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| Bebê filipina eleita simbolicamente como a de 7 bilhões no planeta, segundo a ONU. Já havia a preocupação com essa superpopulação em 1962. |
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